.palavras que libertam.

.eu sou uma moça muito educada. minha mãe fez questão de que eu estudasse em um bom colégio, pagou cursos de inglês, francês e espanhol. incentivou-me a ler, ensinou-me os modos à mesa. sei toda a etiqueta francesa, desde como usar o guardanapo corretamente, até com quais copos e talheres degustar determinado prato. ou seja, sou quase uma lady.

.no entanto, como a educação de uma lady pode sobreviver livre de um pequeno “surto” em meio ao modo cearense de ser e de falar? não. não dá. imagina se a pessoa ainda sofre de uma impaciência e de um estresse sobrenatural? confesso: às vezes fica difícil manter a pose e ser educada.

.mas, como os psicólogos incentivam a não reprimir os sentimentos, sob pena de passarmos o resto da vida  com um deles nos escutando mudos em uma sala acochoada, tento deixar meu eu livre para ter um pequeno lapso de vez em quando.

.nada melhor do que um PUTA QUE PARIU bem dito sonoramente quando algo dá errado. quando cai alguma coisa no seu dedão do pé, quando chuta a quina na mesa ou quando a comida queima no forno. não, não há coisa melhor. mandar alguém PRA PUTA QUE O PARIU também é uma variação importantíssima para o descarrego da raiva guardada. não hesite em mandar o motorista barbeiro,  seu namorado cretino, a vizinha fofoqueira, a mulher do telemarketing, todos para esse maternal  lugar.

.o ministério da saúde adverte: um bom palavrão na hora certa faz bem à saúde. isso mesmo. principalmente se for declamado em um tom bem elevado e com bastante ênfase, ele liberta, alivia tensões e é capaz de melhorar o seu humor e até mesmo o seu dia.

.todavia, saiba pronunciar um bom palavrão no momento adequado. tudo demais é veneno. o palavrão, se bem administrado, não faz mal a ninguém, mas se você sai por aí soltando cobras e lagartos corre o risco não só de fazer alguns inimigos, como também de ser conhecido como o maior boca suja da praça.

.então fica a dica: seja sempre educado, no entanto, se a casa cair, não conte até dez nem respire. dispare um libertador palavrão com toda a pompa que ele exige. como já bem diziam os menudos: não se reprima! bota tudo pra fora. o melhor é que, se exagerar, não tem muitos efeitos colaterais. as palavras se perdem e o máximo que você tem a fazer é perdir desculpas.  pra quem ainda tem um resquício de pudor e não fala palavrão, comece com um MERDAAAAAAAA! em frente ao espelho que também tá valendo.