Arquivo de 1 de outubro de 2010

.sempre a mesma coisa.

Publicado: 1 de outubro de 2010 em Uncategorized

.quedou-se com as bochechas ruborizadas. ele sorriu e perguntou-lhe, carinhoso:

– será que depois de tanto tempo nunca vai ficar sem graça quando falo dos seus olhos e digo o quando está linda? – sorriu.

.ela permaneceu calada. há quase 40 anos era a mesma coisa. angélica nunca soubera encarar com naturalidade o elogio de jonas. continuaria a ficar tímida com suas palavras cheias de charme. era assim. não havia como mudar a natureza que deus lhe dera.

.mas ele gostava. abria um sorriso orgulhoso. mergulhava nos olhos amendoados dela só para deixá-la mais encabulada. os cílios muito longos lembravam os das bonecas de porcelana que ainda guardava na pratileira do quarto como lembrança da mocidade. a pele já não tinha mais a firmeza de outrora, mas os olhos, ah, esses permaneciam com o mesmo brilho que jonas notara ao mirá-la pela primeira vez.

.sim. a primeira vez. estava tudo intacto na mente dele. tudo aconteceu quando ele quase a atropelou com a motocicleta nova. estava vestido ao estilo james jean, porém em versão loira. era assim que as garotas gostavam, e o ar de garoto malvado despertou também o interesse de angélica, sempre com seus cabelos negros e lisos presos em uma trança elegantemente desalinhada e que ele sempre disse achar muito sexy.

.mas não foi um elogio que ela recebeu nessa tarde de novembro. ambos xingaram-se. angélica não era boazinha toda a parte do tempo. houve uma certa demora até que ele conseguisse domesticar a fera e lhe roubar um beijo que só a deixou mais raivosa. mas como sempre dizem que dos cafagestes é que elas gostam, depois não foi mais tão difícil conseguir namorar com aquela garota.

.ele voltou a sorrir e ela perguntou curiosa e se fazendo de séria:

-posso saber do que o senhor está rindo?

– da sua eterna tentativa de fazer cara de brava e que só a faz ficar mais engraçada – disse jonas.

-pois se quiser, faça o jantar o senhor mesmo -esbravejou angélica. levantando-se da cadeira de balanço, jogou no chão a camisa de botão que costurava e se dirigiu ao quarto.

.sempre gostei de mulher bruta, pensava jonas. tomara que pelo menos durma, esqueça e  amanhã prepare o café.