.anoitecer.

Publicado: 1 de agosto de 2010 em Uncategorized

.o espelho refletia as matizes de um anoitecer solitário. o crepúsculo mais belo e triste do qual lembrava ter presenciado. traziam-me na mente um bolero qualquer. tratava-se de um pôr-do-sol duplamente visto por esses olhos verdes e míopes. à esquerda, uma cópia espelhada. à direita, o espetáculo original, que, assim, como o pecado, era casto e sublime.

.do amarelo, brotava o laranja que, em seguida, se sobrepunha ao vermelho, imediatamente se transformando em tons de lilás e azul anil. o que faltava àquele céu eram umas poucas estrelas as quais dessem a ele o brilho dos apaixonados.

.entretanto, os apaixonados estavam lá de fato. em um ponto, os galanteios do astro-rei,  davam lugar à beleza invejável e desdenhosa a Lua. dois amantes de um amor proibido e intocável.

.e eu fitava com inveja os dois amantes durante o fenômeno crepuscular, ao qual assistia de camarote através da janela de minha alcova solitária, onde a única coisa que me sorria era o mix colorífero tingindo  a paisagem vespertina. porque, durante a noite, todos os gatos são pardos e, pela manhã, quando acordada estivesse, nada mais pareceria tão sublime. todas as coisas se resumiriam às faixas vermelha e preta pintadas nas pequenas caixas sobre a mesa de jantar.

.as flores estariam pálidas. a intensa luz do sol me cegaria e já não veria o brilho da Lua.  Camélia perderia o “C”, deixaria  de ser flor e viraria gente, dessas que são meros rascunhos jogados no lixo do divino céu.

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